LUNA ANDERMATT (1925-2013)

LUNA ANDERMATT (1925-2013)

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Maria Antónia Luna Andermatt Brás de Oliveira nasceu em Lisboa, a 23 de Novembro de 1925, e o bailado entrou na sua vida no Instituto de Odivelas quando entrou para a 3.ª classe, pois “gostava muito das aulas de ginástica, especialmente quando faziam ginástica rítmica”. Só começou verdadeiramente a dançar quando saiu do Instituto e descobriu a sua vocação, tendo frequentado as aulas da professora Margarida de Abreu. Ao terminar o liceu, inscreveu-se no Conservatório Nacional, contra a vontade da família que não via com bons olhos uma profissão ligada à dança, com excepção da mãe, Maria João Luna Andermatt (professora iluminista e primeira Presidente da Associação das Antigas Alunas do Instituto de Odivelas) e o, então namorado, Francisco de Assis Brás de Oliveira (Lisboa, 1929), que mais tarde viria a ser o seu marido e director técnico e artístico da CPB, que apoiaram a sua decisão. Segundo a própria:

Tinha uma força de vontade selvagem, muita tenacidade e empenho. Praticava de manhã, à tarde e à noite, horas e horas seguidas e, só após o exame final do Conservatório Nacional (no qual dançou três peças e passou “com distinção”) é que o resto da família se rendeu à sua opção de vida (entrevista com Luna Andermatt, Lisboa, 2011).

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Em 1953 segue para Londres, como bolseira do IAC, onde frequenta a escola do Sadler’s Wells e onde trabalha com o mestre russo Goncharov. “Londres era outro mundo e a arte da dança uma coisa muito diferente de Portugal. Fiquei fascinada com a escola, os espectáculos, toda a vida do bailado, as pessoas em si, tudo era diferente. Um grande civismo. Adorei” (entrevista com Luna Andermatt, Lisboa, 2011). Passado um ano regressa a Portugal, com uma bagagem artística muito maior e a cabeça cheia de ideias de coisas que se poderiam desenvolver onde o ballet era ainda uma arte bastarda. Até então ninguém conseguira dignificar, oficialmente, a profissão de bailarino e ninguém conseguia oficializar a arte da dança. Em 1954, entrou como bailarina principal para o CIC. Dois anos mais tarde criou, nas instalações do TNSC, o Centro de Estudos de Bailado do IAC, com o objectivo de formar bailarinos para uma futura companhia. Entretanto, fez cursos de especialização no país e no estrangeiro, tendo trabalhado com os professores Preobrajenska, Egorova, Gzowsky e Nora Kiss. Também passou uma temporada na escola da Ópera de Paris. Em 1961, juntamente com o marido, um bom conhecedor do meio e respeitado por muitos elementos das direcções das várias instituições oficiais, cria a Companhia Pprtuguesa de Bailado com a intenção de que se transformasse numa companhia nacional – coisa que só viria a acontecer em 1977. Nos anos seguintes lutou com toda a sua energia “pela dignificação e qualificação do bailado em Portugal”.

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Em 1977 realiza finalmente o seu sonho tendo chamado Vera Varela Cid e Pedro Risques Pereira para lhe darem apoio. Surge um segundo projecto novamente agregado ao TNSC. Luna Andermatt, paralelamente às suas actividades artísticas – como fundadora, directora artística e primeira bailarina da Companhia Portuguesa de Bailado, em 1961, e fundadora e co-directora artística da CNB, em 1977 – e pedagógicas – sobretudo no seu estúdio de dança, fundado em 1955, e na Escola de Bailado Clássico do TNSC, entre 1955 e 1963 – foi uma incansável divulgadora da arte da dança ao produzir e apresentar os programas (juvenis) para a RTP Metamorfoses da dança (sobre a história do bailado nos anos de 1966 e 1967) e Do estúdio ao palco – rubrica de divulgação do bailado (sobre os bastidores de espectáculo entre 1970 e 1971). Ambos foram escritos e apresentados em parceria com Vera Varela Cid, e com a colaboração de várias personalidades ligadas ao meio balético português.

“Ninguém envelhece só por viver muitos anos. A juventude não é uma época da vida, é um estado da alma. Não é uma questão de faces lisas, de lábios vermelhos e joelhos bonitos. É uma força de querer, uma qualidade da imaginação, um rigor de emoções e uma frescura da profunda primavera da vida.” foram palavras suas…

A partir de Dezembro de 2011 começou a integrar espectáculos da Companhia Maior, no CCB e em outros teatros. No âmbito das celebrações do Dia Mundial da Dança de 2012, o Centro de Dança de Oeiras e a Revista da Dança homenagearam-na no Auditório Municipal Eunice Muñoz. O seu último projecto, em Maio passado, foi a participação numa Sagração da Primavera da encenadora Mónica Calle, no CCB.

Maria Antónia partiu na tarde de 5 de Novembro de 2013 e o seu epitáfio poderia bem ser: era uma pessoa gentil e generosa cujo amor pela dança nunca enfraqueceu ou vacilou.

 

Published by Antonio Laginha

Autoria e redação

António Laginha, editor e autor da maioria dos textos da RD, escreve como aprendeu antes do pretenso Acordo Ortográfico de 1990, o qual não foi ratificado por todos os países de língua portuguesa.

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