O ano de 2008 não tem sido particularmente feliz para alguns artistas da dança brasileira.
Em Março desapareceu o bailarino e coreógrafo Umberto da Silva, que faleceu de enfarte durante o sono na sua casa em São Paulo, aos 56 anos de idade.
Professor de "artes do corpo" na PUC-SP (Universidade Católica) e assessor para a área de dança da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, Umberto Silva dançou em companhias como o Balé do Teatro Municipal (Rio de Janeiro), o Balé do Teatro Guaíra (Curitiba) e o Balé da Cidade (São Paulo), antes de se dedicar a uma carreira independente.
Fundou a Companhia de Dança de São Paulo e foi professor convidado do Ballet Gulbenkian.
O seu último solo, "Cara Pálida", estreou-se em Fevereiro deste ano e dava sequência a um trabalho de investigação sobre "o universo masculino ocidental".
Sobreviveram-lhe três filhos e a ex-mulher, a coreógrafa e bailarina Ana Maria Mondini.
No mês seguinte foi a vez de uma grande personalidade da dança paulistana durante mais de meio século, Ismael Guiser, que morreu com 81 anos.
Apesar da idade avançada, o coreógrafo e professor argentino mantinha-se bastante activo profissionalmente. Qualidade que lhe era conhecida desde que chegou ao Brasil, em 1953, para ser solista do Ballet do Quarto Centenário.
Poucos dias antes de morrer estava a organizar suas memórias para participar no Projecto Figuras da Dança, da recém-criada São Paulo Companhia de Dança, que o convidou para relembrar seu passado através de depoimentos gravados.
Em simultâneo dirigia a sua própria escola, fundada por em 1979, e companhia, o Ballet Ismael Guiser, criada um ano antes.
Guiser começou a dançar aos 18 anos chegando a solista do Ballet de La Plata, em Buenos Aires. No início dos anos 50 partiu para a Europa, onde trabalhou no Teatro La Scala de Milão e na companhia do francês Roland Petit. O convite para dançar no Brasil surgiu em 1953, através de Aurélio Milloss (1906-1988) o director do Ballet do Quarto Centenário.
Após sua chegada a São Paulo, Guiser começou a coreografar no Ballet do Museu de Arte de São Paulo, para o qual criou as suas primeiras peças no âmbito profissional. Na mesma época dançou também na extinta TV Tupi. Coreografou para sua própria companhia e deixou também trabalhos do género “neo-clássico” para grupos tão distintos quanto o Balé do Teatro Municipal do Rio e o Grupo Cisne Negro (de São Paulo)
Marcos Bragato diria dele:
Falar de Ismael Guiser, o professor, é falar de estados cambiantes, de não dormência.
Nutria um sonho: um método. Antes mesmo do sonho, ele (o método) já o era em cada construção, em cada frase coreográfica que forma e informa. Em mais de 50 anos de actividade como coreógrafo, mas sobretudo como mestre gerador de tantas “habilidades” que foram possíveis, lá estava o método.