Enquanto não se estreia “Morte em Veneza” – no dia 5 de Junho de 2018 – o Ballet Nacional da Croácia (BNC) apresentou os últimos espectáculos da presente temporada com as peças “Sissi – Isabel da Áustria” (com coreografia do francês Patrice Bart e música de Bedrich Smetana) e “Peter Pan”, da autoria do coreógrafo italiano Giorgio Madia e música do compositor croata Bruno Bjelinski (1909-1992).
O belo edifício de estilo neo-barroco e côr amarelo torrado do Teatro Nacional Croata, bem no centro de Zagreb, apresenta uma programação regular e contínua de ópera, dança e teatro e, por tal, o trabalho dos bailarinos tem um peso expressivo na gestão daquela vibrante casa de espectáculos.
A história de “Peter e Wendy” – o título original da peça de J. M. Barrie publicada em 1911 – inspirou um bailado prenhe de energia, acção, colorido e magia. E com muitos personagens que dançam e voam, trazendo ao imaginário das crianças (trata-se de uma obra assumidamente infanto-juvenil) todo um universo que hoje se encontra mais representado nas artes visuais que na própria literatura.
Curiosamente o maestro que dirigiu a orquestra do teatro (especialmente) nesta produção fá-lo com particular amor e empenhamento já que é o filho do falecido compositor. Um dos mais expressivos e prolíficos do panorama musical croata do século vinte.
Assim que se ouviram os primeiros acordes da orquestra, a empolgante linguagem musical de Bjelinski contagiou de imediato a criançada que, literalmente, começou a agitar-se nos assentos. A exuberante cenografia e figurinos, respectivamente, da autoria de Kinsun Chan e Adriana Mortelliti, são um excelente contributo para que se possa seguir as peripécias de Peter Pan (Kornel Palinko), o “rapaz que se recusava a crescer”, de Wendy, sua irmã (Iva Vitic Gameiro), assim como da fada Sininho (Asuka Maruo).
A história exibe também índios de eriçadas cabeleiras azuis – comandados por Guilherme Gameiro Alves, bailarino luso e artista principal do BNC – e piratas que se movimentam em cima de um enorme barco que roda no palco e também funciona como uma espécie de interior de uma casa. Dessa estrutura, que muda de posição repetidamente enquanto os bailarinos entram e saem dela para correr, dançar e voar (presos por cordas) abrem-se camas e fecham-se escadas, que dão acesso ao convés do suposto navio. Para além da família de Peter, e de personagens mais ou menos delirantes como um bando de fadas tiradas a pepel químico de Sininho, a maior excitação no palco acabou por se dever às aparições de um imaginativo crocodilo azul gigante que rasteja, manipulado por dois homens. De um modo geral, os artistas do BNC mostram-se generosos e divertidos, para além de motivados e empenhados em fazer reagir e conquistar a esgotadíssima plateia.
A companhia está, realmente, produtiva e apresenta-se em muito boa forma – visivelmente melhor do que quando em 1996 se apresentou em Portugal – e, felizmente, com um reportório que o público acarinha e com o qual parece identificar-se. Por tal, merecidos aplausos não lhe costuma faltar.