“TELA” DE IVO SERRA NA CULTURGEST: RISCOS, RUÍDOS E CONVERSA DA TRETA

 

Ivo Serra levou ao Pequeno Auditório da Culturgest a peça “Tela”, integrada na programação do festival franco-português, “Temps d’Images”.
O jovem actor aparece em cima do palco, numa peça listada como dança (?), completamente descomprometido e começa por informar a plateia:
“Aqui, dizer aqui é uma tentativa. Aqui vai começar qualquer coisa. Aqui já começou qualquer coisa e não sabemos quanto tempo vai demorar”…
Com este tipo de discurso o “apresentador de serviço” marcou, desde logo, o tom e a agenda do evento, com a dúvida por lema.
Com um ar ainda mais desolado surge, a seguir, uma colega em palco que afirma: vocês a olhar, eu a olhar e uma coisa vai acontecer.
Infelizmente nada aconteceu e à terceira “personagem” alinhada em cena percebeu-se logo que nada de relevante iria, mesmo, acontecer.
“E uma coisa mais ou menos inquietante”, afirma a segunda rapariga, para depois perguntar “já está a ser inquietante?”, antes de um chorrilho de banalidades tais como uma alusão ao “sexualmente normal”!
No segundo segmento de “Tela” o palco abre-se em profundidade e os três actores vão riscando o chão com um marcador, sobre música e vozes gravadas, sem que absolutamente nada de novo ou de estimulante passe para a pacata – para não dizer amorfa – plateia.
Seguidamente um outro “performer” vai fazendo desenhos sobre num computador e o resultado vai sendo projectado numa tela.
Numa secção final três músicos à frente da plateia, junto da boca de cena, vão debitando alguns ruídos, designadamente uns arranhões num sofisticado aparato técnico que se mistura com sonoridades pré gravadas.
Por que se intitulou “Tela” foi irrelevante. O que se fez em 45 minutos de “reflexão indirecta sobre a duração e a resistência das imagens”, também.
A cara de enjoo dos artistas, essa foi bastante significativa, para não dizer eloquente!
Nelas se consubstanciou todo a proposta de Ivo Serra.

Published by Antonio Laginha

Autoria e redação

António Laginha, editor e autor da maioria dos textos da RD, escreve como aprendeu antes do pretenso Acordo Ortográfico de 1990, o qual não foi ratificado por todos os países de língua portuguesa.

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