O DEPURADO FLAMENCO DE XAVIER BARÓN NA AULA MAGNA

O Festival de Flamenco de Lisboa de 2009, para além do guitarrista Jerónimo Maya e da bailarina portuguesa Raquel Oliveira, trouxe à Aula Magna um peso pesado da dança do país vizinho: Javier Barón.
Pela primeira vez em Portugal (e ao contrário de todos os bailarinos da sua geração que já por cá passaram – Cortéz, Canales, Marquéz e Galván), Barón apresentou-se com um espectáculo irrepreensível.
Desde a qualidade da dança de Barón, e de dois jovens bailarinos que lhe servem de apoio, até à produção, passando pelo desenho de luzes, encenação, canto e interpretação musical, tudo teve nota máxima.

Dentro de uma notável simplicidade o espectáculo “Dos Veces Para un Baile” é de uma notável depuração – para além de Israel Galván – nenhum outro “bailaor” daquela (superior) categoria é tão depurado e menos “folclórico”. Poder-se-á afirmar que se trata de flamenco “no seu estado puro”, a preto e branco e sem quaisquer artifícios que desviem o olhar da sobriedade e, em simultâneo, técnica, do “Maestro” Barón.
Um palco apenas habitado por cadeiras, que estrategicamente vão mudando de lugar debaixo de uma luz intimista e desenhada com exímio rigor, dois soberbos “cantaores” vão chorando os seus cantos com voz grave e lamentosa. Um par de guitarristas tirou dos seus instrumentos – com um dedilhado pleno de virtuosismo – solos que levantaram a plateia. E dois jovens bailarinos “palmeros” batem violentamente com os pés no soalho em intervenções em dueto ou a o lado de Barón. Não só os seis artistas são de primeira água como a técnica de Barón – sem qualquer tipo de glamour – prima pela verdade e por uma aura de espontaneidade.

Sem um visual muito apelativo, o artista apresenta-se de fato completo e quando parado parece um não-bailarino – uma pessoa com quem nos cruzamos na rua – porém, a sua dança visceral e intensa, surpreende pelo rendilhado do “taconeo” e por uma velocidade e concentração muito particulares.
 

Published by Antonio Laginha

Autoria e redação

António Laginha, editor e autor da maioria dos textos da RD, escreve como aprendeu antes do pretenso Acordo Ortográfico de 1990, o qual não foi ratificado por todos os países de língua portuguesa.

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