DANÇA LUSA EM DESTAQUE EM CANNES

Inesperadamente – e ainda que por via indirecta – Portugal acabou por brilhar em várias frentes no último Festival de Dança de Cannes que encerrou no dia 4 de Dezembro… até ao Inverno de 2011.
Não só o Ballet de Lorraine – sedeado em Nancy – apresentou uma “soirée” com duas coreografias de Paulo Ribeiro (numa delas a música, em palco, este a cargo do grupo Danças Ocultas), como a nova directora da Escola Superior de Dança de Cannes, Paola Cantalupo, antiga bailarina da Companhia Nacional de Bailado, encarregou Bruno Roque de criar uma peça para os alunos, "Ai Que Vida", apresentada numa simbólica gala.
E, por fim, na qualidade de intérprete o ex-bailarino do Ballet Gulbenkian e do Nederlans Dans Theater, Miguel Oliveira, dançou numa peça do coreógrafo italiano Francesco Nappa.

Num ano em que, inevitavelmente, a crise se fez sentir, o número de companhias e de grupos e de estreias e encomendas do próprio festival foi algo reduzido. Curiosamente, muitos dos artistas presentes em Cannes ou trabalham na região ou apresentam uma qualquer ligação à Ópera de Lyon – que encerrou o certame, por via do seu director Yourgos Loukos, que é também o director do Festival.
A quebrar esta lógica, o espectáculo de abertura veio de Charleroi (Bélgica), o Grupo Danses Concertantes, liderado pelo francês Benjamin Millepied, exibiu excelentes bailarinos norte-americanos (emprestados pelo American Ballet Theatre), e o do Japão vieram os Dumb Type.
Este ano o certame foi, inevitavelmente, dedicado à memória daquela que foi a mais importante artista da dança residente em Cannes: Rosella Hightower. Se ela não tivesse adoptado a cidade como sua e aí não tivesse atraído centenas de estudantes e profissionais de nomeada, não só o festival não existiria como tampouco Cannes seria reconhecida como a capital da dança da Riviera francesa.
Apesar do presidente do Palácio dos Festivais e dos Congressos, David Lisnard ter referido no programa que para além do desaparecimento de Madame Hightower, Cannes também chorava a morte de Pina Bausch, a verdade é que a sombra da "diva de Wuppertal" foi muito menos intensa que a de Rosella, pontuando o teatro de movimento e pouca, ou nenhuma, dança-teatro de inspiração germânica.
As grandes apostas de Loukos situaram-se em 2009 no Système Castafiore (da brasileira Márcia Barcellos e do francês Karl Biscuit), no Ballet de Lorraine – que dançou com inesperado brio duas obras (menores) que Ribeiro criou em 2004 e 2005 para o extinto Ballet Gulbenkian -, na muita e variada dança apresentada na sentida Gala de Homenagem a Rosella Higtower, em três obras de fôlego de Millepied e na conhecida “Giselle” de Mats Ek, pelo Ballet da Ópera de Lyon.

Published by Antonio Laginha

Autoria e redação

António Laginha, editor e autor da maioria dos textos da RD, escreve como aprendeu antes do pretenso Acordo Ortográfico de 1990, o qual não foi ratificado por todos os países de língua portuguesa.

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