Com a reposição do centenário “Quebra-Nozes” (1892), o Teatro Nacional de S. Carlos volta a apostar nas grandes produções baléticas, com a Companhia Nacional de Bailado, o coro e a orquestra do nosso teatro nacional.
Embora termine em Lisboa na altura em que, realmente, chega o frio e a época natalícia propriamente dita, esta versão de Armando Jorge (antigo director da companhia) foi estreada há 24 anos naquele mesmo palco e já repetida, até, no Coliseu.
Herdeira da obra que Anton Dolin criou na Gulbenkian nos anos 70, e utilizando os mesmos cenários e figurinos de Artur Casais, foi, justamente devido a essa premissa que fez furor naquela época.
A produção segue o libretto de Petipa e a partitura de Tchaikovsky, e uma ou outra dança que não se perdeu, do original de Ivanov.
Apesar dos acrescentos de Armando Jorge se mostrarem muito académicos e sem grande invenção coreográfica, trata-se uma boa oportunidade para a CNB dançar com todos os seus elementos, já que nos últimos espectáculos apenas entrou em cena menos de um quarto da companhia.
A orquestra, sob a batuta de Johannes Stert mostrou-se correcta no desempenho, tendo os papéis principais sido interpretados na noite de estreia, no 1º acto por Filipa Castro e Carlos Pinillos (Rainha e Rei das Neves) e no 2º acto por Ana Lacerda e Fernando Duarte (Fada do Açúcar e Cavaleiro).
"O Quebra Nozes" terá apresentações às 16h00 e 21h00 até 13 de Dezembro no Teatro de S. Carlos, seguindo depois em digressão para Almada (17 de Dezembro), Alentejo (Beja, 19 e 20 de Dezembro) e Algarve (Faro, 30 de Dezembro)
Após o primeiro espectáculo do "Quebra-Nozes", antigos e actuais elementos da CNB – num gesto algo saudosista – juntaram-se para homenagear Armando Jorge que, este ano, completou 70 anos.
Ele que percorreu a dança portuguesa das últimas cinco décadas, foi o primeiro bailarino português a dançar os papéis principais dos bailados clássicos tendo feito par com grandes bailarinas, nomeadamente, Isabel Santa-Rosa, foi condecorado em palco aberto pelo Presidente da República.
Armando Jorge (na foto, ao lado da falecida "ballerina" Isabel Santa-Rosa) iniciou-se na dança com Margarida de Abreu, ainda estudante de pintura, tendo feito parte, sucessivamente, do Círculo de Iniciação Coreográfica, dos Bailados Verde Gaio, dos Grands Ballets Canadiens e, finalmente, do Ballet Gulbenkian.
Na qualidade de bailarino principal destas últimas companhias, distinguiu-se no reportório tradicional tendo assinado na Gulbenkian a coreografia, cenografia e figurinos de cinco peças, das quais se destaca “Canto da Solidão”.
A partir de 1975, a sua actividade artística centrou-se no ensino tendo voltado ao Canadá, em 78, para co-dirigir os Ballets Jazz de Montreal. De regresso a Lisboa, assumiu, no ano seguinte a direcção da recém-formada Companhia Nacional de Bailado. A sua acção foi determinante na consolidação do grupo para o qual criou algumas obras, nomeadamente, “Carmina Burana”, e remontando algumas peças de reportório. Também se empenhou na organização de um Centro de Formação de Bailarinos que viria a dar alguns frutos.
Na sequência de um certo desgaste e de políticas artísticas pouco consensuais, Armando Jorge foi afastado da CNB ao fim de 14 anos de permanência ininterrupta no cargo de director. Contudo, desde então a companhia não teve um director com o carisma e a perseverança daquele a quem Cavaco Silva medalhou no palco do S. Carlos como reconhecimento de uma vida de bailarino, coreógrafo, cenógrafo e figurinista.