Vasco Wellenkamp, Carlos Caldas, John Auld e Cecília Potier, em La fille mal gardée, coreografia de John Auld para o Grupo Gulbenkian de Bailado, 1965.
Com fortes ligações a Portugal, desde que foi mestre de bailado no Ballet Gulbenkian a meio da década de 60, o australiano John Auld faleceu em Londres no dia 17 de Junho de 2015.
Curiosamente um mês depois apresentava-se no Funchal (pela mão de dois dos seus amigos de longa data, Marta Ataíde e Carlos Fernandes) o bailado “Petrouchka”, obra que Auld remontou na Companhia Nacional de Bailado.
O conhecido professor e (excelente) bailarino de carácter nasceu em Melbourne a 6 de Janeiro de 1925. Na década de 50 foi artista principal do Borovansky Ballet, na Austrália, tendo saído para o Reino Unido em 1958. Dançou no Ballet dos Dois Mundos – de Nora Kaye e Herbert Ross – e no London’s Festival Ballet (hoje English National Ballet) em que foi assistente de John Gilpin durante quatro anos.
Em Fevereiro de 1964, veio para Lisboa como mestre de bailado do Grupo Experimental de Ballet, mais tarde conhecido por Grupo Gulbenkian de Bailado e, depois, por Ballet Gulbenkian. No programa de Março no Teatro Tivoli, “dedicado aos sócios do Centro Português de Bailado” surge na sua direcção artística (e Bivar Salgado na executiva) tendo assegurado os trabalhos da companhia, na dupla qualidade de mestre-de-bailado e director artístico, até Outubro do ano de 64. Anna Mascolo sucedeu-lhe na direcção e para programa de Natal de 64, no Teatro Monumental, Auld remontou com assinalável sucesso – pela primeira vez no grupo e também em Portugal numa companhia portuguesa no século XX – um bailado clássico integral: A filha mal guardada. Após a saída de Mascolo, no Verão de 65, Auld manteve-se como mestre de bailado esperando a entrada do escocês Walter Gore.
John Auld, que “não soube ou não pode superar os condicionalismos vigentes, enquanto director, após a saída de Mascolo, parece ter visto como segura a vinda de um profissional como Gore” (in História da Dança em Portugal, de José Sasportes, 1970, p.300), continuando no cargo de mestre-de-bailado que, até então, vinha a exercer. Além do seu trabalho pedagógico na companhia continuou a contribuir com algumas remontagens de clássicos, dançando, em simultâneo, em alguns deles, papéis principais “de carácter”.
Em 1971, por sugestão do seu amigo Sir Keneth MacMillan, Auld aceitou o cargo de coordenador do Novo Grupo, dirigido por Peter Wright, a companhia de digressão do Royal Ballet que, futuramente viria a dar origem ao Sadler’s Wells Royal Ballet hoje chamado Birmingham Royal Ballet. Dez anos depois foi promovido a assistente de Wright continuando a dançar papéis de carácter – designadamente o Dr. Coppélius de Coppélia, a Mãe Simone de A filha mal guardada, a bruxa Madge em A sílfide e a Perceptora no Baile dos Cadetes – até completar 60 anos.
Quando se reformou veio viver para Sintra com a sua mulher, Manolita de Bogaerde. A convite de Marta Ataíde e Carlos Fernandes deslocou-se algumas vezes ao Funchal a fim de leccionar. Anos depois voltou a residir em Londres, onde a sua mulher faleceu, em 2007.