Nascida a 19 de Fevereiro de 1944 em Fukui (Japão) e baptizada com o nome Rebento de Arroz, Carlotta Ikeda estudou dança clássica na universidade de Tóquio antes de integrar o elenco do conhecido grupo Dairakudakan, tendo falecido em Bordeaux, a 24 de Setembro, onde instalara o seu grupo Ariadone.
Dizia-se que era a encarnação viva da “Dança da Feiticeira”, de Mary Wigman, tendo a coreógrafa desenvolvido um estilo próprio na senda dos grandes mestres do butô. Ela própria criou, como resposta aos grupos nipónicos exclusivamente masculinos o grupo supra citado, com o apoio de Ko Murobushi, outro dos nomes sonantes da “dança das trevas ou da completa escuridão”.
Segundo a crítica francesa Marie-Christine Vernay: com o corpo coberto de pó branco ela desenvolveu nos seus espectáculos uma linguagem contemporânea, sulfurosa e coberta de sangue”.
Sob o título genérico “Vulcão Feminino” Carlotta desenvolveu todo um ciclo de obras que espelham impecavelmente os seus estados de transe e abordagem artística à dança. Em 2012 interpretou a figura mítica de Medeia num solo em colaboração com o autor Pascal Guignard. Ainda de acordo com alguns escritos de Vernay, “ela guardava uma força telúrica, um erotismo e uma arte de passar da abstracção ao grotesco”.
Sabe-se que decidiu partir na maior das discrições – vitimada por um cancro no fígado – e fez questão que nenhuma cerimónia fúnebre fosse realizada. Antes, porém, ensinou o solo “Utt” (de Murobushi) a uma bailarina da da sua companhia, Maï Ishiwata, que o dançará no Glob Théâtre de Bordeaux, em meados de Outubro. Será, pois, em cena que uma homenagem será levada a cabo àquela que durante mais de três décadas deixou uma forte marca na dança francesa.