A Companhia Nacional de Bailado (CNB) despediu-se do Inverno com “Coppélia”, uma história primaveril de amores desencontrados, sedução, caprichos e, pasme-se, até de alguma violência urbana!
Embora o velho e excêntrico bonecreiro Coppelius seja agredido por quatro rapazes da rua e Swanilda lhe assalte a casa (fazendo-o crer ser a sua boneca favorita, Coppélia, à qual ele insufla vida) e tente destruir a bonecada da sua oficina, esta é uma das mais pueris peças coreográficas do século XIX, cujo original do famoso coreógrafo francês, Arthur Saint-Léon (que viveu uns tempos em Lisboa e trabalhou no Teatro Real de S. Carlos) está irremediavelmente perdido.
A trama amorosa da obra é protagonizada por Swanilda que morre de ciúmes porque o namorado Franz anda a deitar o “olho” à imóvel boneca que só sabe ler no varandim da casa de Coppelius.
Ete foi o pretexto para Delibes ter escrito uma peça que alberga trechos muito conhecidos, mas cuja história é de difícil digestão numa época de Internet e jogos de computador com temas bem mais sumarentos e, sobretudo, adaptados ao mundo actual.
Mas como é de fantasia que estamos a falar, os bailarinos da CNB entram bem na proposta e dançam a peça com acerto… mas nem sempre com grande chama.
É a versão de John Auld que a CNB apresenta no Teatro Camões, remontada por um grupo de ensaiadores. Nota-se que, com tanta gente a “meter a lher” na coreografia, alguém se esqueceu que “estilo” do original não pode deixar algoa a desejar. Falta nesta produção, pelo menos, um bom número de figurantes o que traria à cena um pouco mais de excitação e uma ideia das vivências de uma aldeia com as suas personagens, neste caso, misturadas (no II acto) com as da oficina de Coppelius, cheia de bonecos dançantes.
Apesar de uma plateia algo amorfa, os papéis de Swanilda e Franz foram dançados (na estreia) com vivacidade pelo casal Filipa Castro-Carlos Pinillos. Ela é uma bailarina competente, tecnicamente correcta, porém, algo previsível. Enquanto ele se revela mais interessante artisticamente e confere um certo vistuosismo a um papel que no original de 1970 foi dançado por uma mulher (como era hábito na época).
Peggy Konik e Tomislav Petranovic, alternam nos papéis principais com Ana Lacerda e o bailarino cubano convidado Romel Frometa.
Romel Frometa