A 25ª edição do Festival (de Teatro) de Almada, abriu em 2008, com um espectáculo de dança protagonizado pela Companhia Culturarte, de Maputo, Moçambique.
Assinado por Panaibra Gabriel, um dos mais conhecidos coreógrafos moçambicanos, “Dentro de Mim Outra Ilha” surge como uma espécie de jornada (a lado nenhum) de um grupo formado por duas mulheres, Edna Jaime e Sónia Mlapha, e três homens, Domingos Bié, Horácio Macuacua e Ídio Chichava.
Sem nunca se tornar panfletário – o que é recorrente (e normal) em muitos espectáculos oriundos do continente africano -, ou determinar a sua localização num espaço físico específico, esta dança de afectos e inquietações tanto toca pela serenidade como pela agitação, tendo por fundo uma partitura musical de Rufas Maculuve.
O espectáculo, que começou com 5 fios de água (que saem de outras tantas torneiras de uma espécie de fontanário ao canto do palco), apresenta passagens de características ritualísticas, com um pequeno jogo entre pés e chinelos em lagos de luz, cenas repetitivas na beira do palco, com rostos e corpos a esfregarem-se e a rebolarem numa faixa de areia e secções faladas e cantadas. Terminando com uma quantidade expressiva de água, despejada no proscénio em forma de forte chuvada que todos molha e … abençoa.
Ainda que pareça algo forçado – em termos do normal desempenho da Natureza – e pouco original, este epílogo de “Dentro de Mim Outra Ilha” revela-se bastante efectivo pela maneira como os cinco bailarinos se entregam ao prazer e ao júbilo de receber nos seus corpos o precioso líquido tão necessário em terras africanas.