YURI CHATAL (1937–2024) PROFESSOR ESTIMADO, GENEROSO E AMÁVEL

YURI CHATAL (1937–2024) PROFESSOR ESTIMADO, GENEROSO E AMÁVEL

O estimado professor de dança clássica, Yuri Chatal, residente em Portugal desde 1992, faleceu em Lisboa no dia 4 de Janeiro de 2024, cerca de uma semana após completar 86 anos.

George Yuri Chatal, nasceu a 28 de Dezembro de 1937 em Kiev, durante a II Guerra Mundial, e com apenas três anos (aquando da invasão da Ucrânia pelos alemães) fugiu com os pais da antiga URSS. Atravessaram, quase sempre a pé durante muitos meses, alguns países até chegarem à Alemanha onde estiveram retidos cerca de meio ano num campo de concentração. Com a derrota da Alemanha a família foi libertada do cativeiro e, uma vez mais, partiu em condições muito precárias com milhares de outros imigrantes fugitivos, em direcção a Itália. Numa das ilhas perto de Veneza foram acolhidos num mosteiro arménio, uma vez que o pai, engenheiro electro-mecânico de profissão, era de ascendência arménia. Quando a guerra terminou em 1945, a família seguiu para Paris, com o objectivo de partir para o Novo Mundo, e aí permaneceu três anos até que, depois de grandes dificuldades, conseguiram a documentação necessária para chegar aos Estados Unidos.

Os pais estabeleceram-se em Nova Iorque, quando Yuri tinha 15 anos, e tornaram-se todos cidadãos norte-americanos. Numa cidade em que havia diversas comunidades de leste, continuou a dançar folclore russo que aprendera em França. Tal como o pai, Yuri tinha em mente tornar-se engenheiro – tendo mesmo recebido uma bolsa para os estudos de engenharia – mas acabou por integrar vários agrupamentos folclóricos antes de entrar numa escola de dança para aperfeiçoar a sua técnica. A sua primeira professora, Maria Nevelska, era uma antiga bailarina do Bolchoi, que também fugira da Rússia, mas após a revolução de 1917. Posteriormente estudou na School of the American Ballet (NYC) com alguns professores famosos de origem russa, designadamente, Felia Doubrosvska (1896-1981) e o seu marido Pierre Vladimirov (1893-1970) e Anatole Oboukhov (1896-1962), ligados ao Teatro Mariinski e aos Ballets Russes de Serge Diaghilev, André Eglevsky (1917-1977) e Vladimir Dokoudovsky (1919-1998), no Ballet Arts School no Carnagie Hall (NYC).

Aos 21 anos já tinha um filho e uma filha e, para ganhar a vida, dançava indiscriminadamente em clubes nocturnos, em shows da Broadway (Tovarisch e My Fair Lady), na National Television e em companhias de bailado clássico em Nova Iorque, nomeadamente o American Festival Ballet, o Eglevsky Ballet, o Maryland Ballet e o Ballet Romântico de Igor Youskevitch. Como bailarino e coreógrafo integrou os Supper Clubs no Canadá.

Sendo nessa época difícil conseguir trabalho regular devido à forte competição que existia no mundo da dança, Yuri deixou Manhattan pala dar aulas na Universidade do Alabama, em 1969. Antes de completar 35 anos foi-lhe oferecido um lugar de director de uma companhia regional em Birmingham, no Alabama. 

 

 

 

 

 

 

Juntamente com a mulher, Vicki Chatal, que também era professora de dança, dirigiu várias companhias regionais como o Memphis Ballet, no Tennessee (1970-74), e o Maryland Ballet (1974-77). Foi director artístico do Departamento de Dança da Universidade de Alabama e, após o seu divórcio, ficou mais livre para trabalhar no estrangeiro tendo aceitado um convite para mestre-de-bailado e coreógrafo residente do Ballet da Islândia, em Reykjavik. Nessa companhia montou na temporada de 1977-78 o bailado Quebra-Nozes, que teve como estrela Helgi Tomasson, bailarino do New York City Ballet. Em 1979 foi professor convidado do Ballet de Berlim, na Alemanha de Leste, e da Universidade do Wisconsin (EUA).

Também deu aulas na International School do Carnegie Hall e na Westchester Dance Association (New York). Posteriormente trabalhou em Itália como mestre-de-bailado no Teatro Massimo de Palermo e com a companhia de Carla Fracci, de 1980 a 1982. Nesse ano foi convidado, em Palermo, para professor residente na Escola do Ballet Real de Inglaterra (Londres) onde esteve três anos e meio. Ainda no Reino Unido leccionou no Birmingham Royal Ballet e na Rambert Dance Company e no Ballet Real da Suécia e na escola da companhia (1985-87).

Regressou aos EUA para trabalhar com o Colorado Ballet onde remontou D. Quixote e O Lago dos Cisnes. Coreografou O Pássaro de Fogo e O Chapéu de Três Bicos, para o Ballet de Klagenfurt, as danças da ópera Aida para a Ópera de Bona, Capriccio, para o Ballet de  Munique e o III acto de A Bela Adormecida, para o Ballet de  Gotemburgo. Depois foi professor convidado em várias companhias europeias (designadamente o Teatro alla Scala, o English National Ballet e o Cullberg Ballet), norte-americanas e em Taiwan e deu aulas em Londres onde conheceu a sua segunda mulher, a bailarina Ângela Clemente, em 1984. Começaram a trabalhar em 1986 no Ballet de Munique e, ao fim de seis anos, regressaram juntos a Portugal.

A partir de 1992 leccionou no Ballet Gulbenkian, na CêDêCê (Setubal), na Companhia de Paulo Ribeiro (Viseu) e na de Olga Roriz (Lisboa), para além de inúmeras escolas de dança, designadamente no Porto e em Algés, no Centro de Dança de Oeiras.

Foi professor (e coach) de ballerinas como Eva Evdokimova e Galina Panova e também deu aulas a Rudolfo Nureyev, em Londres. 

Sobreviveram-lhe duas filhas, a cirurgiã plástica nos Estados Unidos Catherine Chatal e Eva Chatal, bailarina no Ballet das Filipinas, e a mulher a professora Ângela Clemente.

 

Published by Antonio Laginha

Autoria e redação

António Laginha, editor e autor da maioria dos textos da RD, escreve como aprendeu antes do pretenso Acordo Ortográfico de 1990, o qual não foi ratificado por todos os países de língua portuguesa.

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