A Companhia Ultima Vez, cujo director e coreógrafo é o belga Wim Vandekeybus, voltou a apresentar-se m Portugal, depois de muitos anos de ausência. Pelo Teatro Municipal de Almada passou "NieuwZwart", a mais recente criação do reputado coreógrafo em Wim Vandekeybus, que depois seguiu para Aveiro e Braga.
Vandekeybus reuniu um grupo de sete intérpretes – três raparigas e quatro rapazes -, e com ele desenvolveu as suas habituais formas de fisicalidade que, segundo a nota de imprensa, foram “inspiradas nas ideias de mudança e evolução que se processam através da destruição e da recusa”.
Para além de bailarinos que não param durante hora e meia, correndo, saltando, rastejando, estrebuchando e, literalmente, atirando-se uns para cima dos outros ou para o chão – exibindo uma “endurance” incrível ao cumprir, muitas vezes, padrões repetitivos – a contribuição do músico de rock belga Mauro Pawlowski (membro da banda Deus) também é vital no clima de forte tensão criado pelo elevado conjunto de decibéis debitado.
O espectáculo é muito bem produzido, tanto a nível cenográfico – com os três músicos (na percussão e guitarras) pendurados num balcão encostado ao fundo – como de adereços, e dirigido a um público alvo muito definido, que não lhe regateou aplausos. As partes em que folhas gigantes de papel metalizado criam bons incentivos visuais e uns sons algo curiosos, são bem mais interessantes do as em que apenas se debita movimento puro e duro.
Para além da dificuldade em encontrar no ininteligível texto debitado em inglês os temas fornecidos pelos coreógrafo, designadamente, “a eternidade da alma e a perigosidade das paixões humanas”, o espectáculo, em termos de conteúdo, não vai mais além do que no passado Vandekeybus nos tem proposto.
O clima de violência, decorrente de uma continuada luta entre corpos, acaba por dar a ideia que o coreógrafo utiliza uma (falsa) técnica de improvisação de contacto – como meio e não como fim -, em que privilegia a tensão, em vez da troca e partilha de pesos e energias.
Olhando o panorama nacional, em que nenhum coreógrafo imprime nos seus espectáculos o ímpeto e a animalidade de "Nieuwzwart”, quem diria que João Fiadeiro, em tempos, trabalhou com Wandekeybus!
Tudo leva a crer que aquele se apercebeu a tempo que o prazo de validade de um “atleta” que trabalha para o coreógrafo belga só pode ser muito reduzido.