TUFO: A DANÇA DAS MUTHIANAS HORERAS

TUFO: A DANÇA DAS MUTHIANAS HORERAS

Seguindo a divisão geográfica das danças tradicionais moçambicanas, estaríamos no norte da província de Nampula. Teríamos viajado para a Ilha de Moçambique, a que foi a primeira capital daquele país banhado pelo Índico, de onde vem uma das mais emblemáticas danças moçambicanas. Mas porque o mistério une os homens, acabamos ficando no mítico bairro de Mafalala, casas de madeira e zinco de onde, misteriosamente, saem os mais bem sucedidos homens da cultura de Moçambique como o poeta José Craveirinha. Íamos ao encontro de uma dança que só se pode fazer por mulheres bonitas e

até sensuais que estejam de contacto saudável como a vida. São elas as famosas mulheres bonitas de Nampula, chamas na língua da qual a província Macua por “muthiana horera”.

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Nunca uma expressão poderia definir e sintetizar (melhor) a cultura de um país como, no coração de Ma puto, acontece com o Bairro da Mafalala. Curioso ou não, o facto é que é no interior do referido subúrbio onde se encontra uma colectividade artístico- cultural que define os povos da primeira capital do país, a Ilha de Moçambique. No entanto, meio século depois da sua criação, para muitos, o Grupo Tufo da Mafalala mantém-se uma relíquia sociocultural por descobrir.

Além de trabalhos de investigação científica no campo do conhecimento das letras e ciências sociais, bem como uma série de movimentos socioculturais e artísticos realizados sobre a Mafalala, nos últimos anos, em resultado disso, muita literatura tem-se tornado

fecunda no país. A Mafalala é um espaço a partir do qual muitos cidadãos moçambicanos

descobrem as suas referências de ancestralidade, de culturas e tradição, assim com o de identidade. A par disso, nem vale a pena referir o contributo de diversas personalidades moçambicanas que , em função do seu desempenho em diversas áreas de produção social,

cultural, desportiva, entre outras, concorreram para que Moçambique se fizesse conhecer no mundo.

De qualquer modo, deixando- se esta contextualização à parte, importa referir que é no interior do referido bairro (em certo sentido mítico e lendário) onde se encontra o Grupo Tufo da Mafalala, uma colectividade artística e sociocultural feminina que se dedica à dança com o mesmo nome, o tufo. Sobre a dança, certas fontes históricas referem que a sua origem é árabe e é ligada à religião muçulmana. Grosso modo, invariavelmente, o tufo é praticado em cerimónias festivas incluindo determinadas efemérides específicas do calendário islâmico.

Outro dado peculiar é que o tufo, enquanto um a forma de manifestação cultural , é essencialmente praticado por mulheres, o que faz com que, os homens participem na qualidade de instrumentistas.

 

Símbolo de União

 

Segundo fontes liga das ao Grupo Tufo da Mafalala, em Maputo, a colectividade em alusão é unicamente constituída pelas muthianas horeras (o mesmo que mulheres bonitas), originárias da província de Nampula. As referidas mulheres, por diversos motivos que animam o êxodo rural entre outros tipos de imigração, encontrando-se na capital do país decidiram congregar-se nu ma colectividade artística que, além de ter o nome de uma

manifestação cultural , concorre para que por seu intermédio se divulguem, promovam e perpetuem muitos traços da tradição e cultura do  ovo de uma parte importante da África oriental , a província de Nampula, no norte de Moçambique.

Se quisermos ser mais concretos, podemos afirmar que a dança tufo tem origem na Ilha de Moçambique, mas , na actualidade, muito em particular em resultado da formação do grupo em análise, esta manifestação artístico -cultural é exibida nos palcos das principais casas culturais das capitais provinciais de (quase) todo o país.

Mais importante ainda é que, por exemplo, a partir de Maputo, o Grupo Tufo da Mafalala já realizou digressões para alguns países africanos como a vizinha África do Sul, em 2003, a Argélia, no ano 2009, no contexto do Festival Pan-Africano.

Quer em resultado da escassez de convites para realizar concertos de dança, quer por (uma provável) conexão com organizações políticas do Governo moçambicano, ou quer ainda pela compreensão dos governantes em relação à propriedade que o Grupo Tufo da Mafalala exerce no tópico da representação da identidade do nacionalismo moçambicano, o facto é que esta colectividade tem-se apresentado (mais) em cerimónias de recepção de

personalidades políticas estrangeiras que visitam o nosso país.

Em certo sentido, as bailarinas do Tufo são um dos nossos principais atractivos e/ou encantos culturais para o mundo. Verdadeira força de unificação da mulher macua em Maputo, as Tufo da Mafalala são uma proposta irrecusável em cerimónias de casamento – acreditam alguns cidadãos que têm demandado os seus serviços.

 

Dança do encantamento

 

Recuse-se quem quiser, mas perante os traços de uma sensualidade prudente que as bailarinas, em consonância com a musicalidade que as suas vozes produzem, nada nos impede de afirmar que o tufo é, sem dúvida nenhuma, uma dança do encantamento.

É como explica Mariamo Juma, membro da colectividade: “maquilhadas de mussiro, uma espécie de loção que se aplica no rosto, a selecção rigorosa da indumentária incluindo algumas quinquilharias com que se adornam são os elementos fundamentais, quase determinantes para a execução da dança”.

Geralmente, as mulheres e as raparigas que praticam o tufo usam um uniforme constituído por capulana, blusa e lenço, quase sempre de cores garridas. As capulanas são amarradas à cintura, uma por cima da outra, cobrindo as pernas. Não menos importantes são os aportes que Júlio Silva, um investigar moçambicano que explora o campo dos ritmos e instrumentos de música tradicional moçambicana, acrescenta sobre a referida manifestação cultural: “para a execução da dança, as mulheres dispõem-se em fila segundo a altura de cada uma. A coreografia é suave e privilegia o movimento cadenciado dos pés, dos braços, das mãos, da cintura, enquanto as dançarinas inclinam o tronco e a cabeça, tudo isso coordenado ao compasso da canção entoada por elas próprias”.

 

Eduardo Quive – Maputo

Por amável cedência da revista DIÁLOGO INTERCULTURAL

 

 

Published by Antonio Laginha

Autoria e redação

António Laginha, editor e autor da maioria dos textos da RD, escreve como aprendeu antes do pretenso Acordo Ortográfico de 1990, o qual não foi ratificado por todos os países de língua portuguesa.

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