Uma das facadas de Jorge Barreto Xavier – o pouco visível e ainda menos confiável Secretário de Estado da Cultura que ficará (tristemente) famoso por ter metido os pés pelas mão no “caso Miró” – e do governo PSD/CDS nas artes portuguesas foi a recondução de Luisa Taveira na direcção da Companhia Nacional de Bailado (CNB). Para além da nomeação de um inusitado conjunto de pessoas para o conselho de administração do Teatro Nacional de S. Carlos, bem como Joana Carneiro para maestrina titular e o italiano Paolo Pinamonte como conselheiro artístico. À primeira vista, parece que fazer pior… seria dificílimo!
A política, que estrangula muita da nossa Cultura e, nas palavras do SEC, é o que domina o país (e não a economia), como se sabe, já há muito que desceu ao grau… abaixo de zero.
E se o actual governo parece empenhado na destruição do nosso tecido social e de complexas estruturas como o Serviço Nacional de Saúde, porque duvidar que também está no “bom caminho” para acabar com tudo aquilo de positivo que o S. Carlos e a CNB, ao fim de anos e anos de regabofe, ainda podem oferecer ao País ?
O nosso único teatro lírico é a desgraça que que se vê em matéria artística. A barafunda que os governos têm implantado na sua direcção, com invenções administrativas que se fazem e desfazem como nuvens, é o exemplo – pela negativa – de como não se devia gerir nenhum teatro no Mundo. Cada direcção é pior que a anterior e o dinheiro continua a evaporar-se com resultados que o público e a crítica apontam como pouco mais que medíocres!
Na CNB a desajeitada gestão artística, à vista de todos e que só consegue encher o triste Teatro Camões com “O Lago dos Cisnes” e outras obras clássicas – ainda que em versões de qualidade muito discutível – tem sido caótica, vazia e desprovida de qualquer personalidade, para não dizer… inteligência. Já para não mencionar que a directora cessante (amiga da actual) e um subdirector – que depois levou um “upgrade” na carteira e no poder foi para o S. Carlos, estando hoje a mandar no D. Maria II – foram condenados pelo Tribunal de Contas a devolver uns “trocados” dos 3,6 milhões que “desapareceram” dos cofres da companhia.
É neste clima de desonestidade sopeiral, incompetência profissional e inconsistência artística e intelectual que a companhia tem navegado nas últimas décadas.
Mas, como qualquer burocrata que se preza, o Dr. Barreto Xavier, cujo discurso político é assinalado por muito por se revelar de uma confrangedora vacuidade, ainda apareceu para contribuir para aumentar o descalabro. De uma coisa não pode eximir: sabia bem que se tivesse aberto um concurso público internacional seguramente teria conseguido melhor para a CNB, até a nível nacional! E para tornar tudo ainda mais patético, veio o primeiro-ministro à RTP afirmar que os directores na função pública agora são escolhidos por concurso e – para que tudo seja limpo e confiável – com um júri constituído por uma entidade independente!
Luisa Taveira, como a grande maioria dos gestores artísticos no País é, não só o exemplo acabado do “princípio de Peter” como – estamos todos lembrados – foi convidada para repetir o desastre na CNB depois de ter passado por um primeiro mandado turbulento que nem ao fim chegou. Só mesmo numa companhia de dança portuguesa a asneira se repete até à exaustão.
Não nos esqueçamos que o Ballet Gulbenkian acabou por muito menos. Infelizmente a política é assim e já Bordallo Pinheiro, no início do século XX, lhe chamava grande porca.
Mas para que tudo não pareça demasiado negro, por sorte, ainda temos uma ou outra estrela nacional perdida num firmamento cada vez mais rarefeito. Citemos, a talhe de foice, quem (em 2013) os jovens bailarinos do Quorum Ballet foram mostrar o seu trabalho aos tailandeses e a notável Elizabete Matos cantou o papel titular da “Tosca” no MET (Metropolitan Opera House em Nova Iorque, EUA). Em 2014 a VorticeDance – que se vê sistematicamente excluída dos apoios da Direcção-Geral da Artes – fez uma digressão de sucesso a várias cidades brasileiras… enquanto em Portugal se mantém a amarga a sensação de que após a perniciosa acção deste governo, seguramente, se levará muito tempo para as artes teatrais portuguesas recuperarem de tamanha catástrofe !
António Laginha
Quorum Ballet
NOTA de ACTUALIZAÇÃO
A passagem de Barreto Xavier pelos gabinetes do Palácio da Ajuda trouxe-lhe a grande oportunidade da sua vida. Para além de um lugar no governo – quando, aparentemente, estava desempregado – recebeu uma especial promoção ao passar de burocrata a artista. Já que ficará, seguramente, conhecido como um grande coreógrafo. A ele se deve a mais expressiva “Dança de Cadeiras” na Cultura. Com a decisão de lançar concursos para as chefias de inúmeras instituições (com requisitos milimétricos e muito bem planeados) conseguiu empurrar para fora do poleiro a maioria de directores e subdirectores possivelmente filiados no PS.
Porém um enorme mistério permanece: porque ficou de fora desta operação de marketing democrático a Companhia Nacional de Bailado. E, na hora de escolher um novo director, que tipo de “mel” possui Luisa Taveira para ficar colada à cadeira e resistir aos ventos da “mudança” na SEC ?
AL