“NORTADA” COM POUCO ÍMPETO

Tem por título “Nortada” o último trabalho de Olga Roriz encomendado por Viana de Castelo e estreado naquela cidade em Junho de 2009, que só chegou à capital (Teatro Camões) quatro meses depois…
Nada, porém, nos levaria àquela urbe minhota, nem mesmo a bela voz de Amália cantando “Havemos de ir a Viana”, logo no início da peça, que tem por cenário um palco pejado de plantas secas.
Mas também Pina Bausch não “pertenceu” a nenhuma das cidades em que se inspirou para montar tantos e tão variados espectáculos…
Já vimos proscénios com lava e terra (seca e molhada), relva e folhas secas, cravos e outras flores, arbustos e toda a espécie de elementos vegetais. Cadeiras e mesas também já não apelam muito à imaginação!

Durante uma hora e meia três mulheres – Cláudia Nóvoa, Catarina Câmara e Rafaela Salvador – e dois homens, Bruno Alexandre e Pedro Cal, vão desfiando as supostas “memórias” de uma terra em que nenhum deles viveu, incluindo a própria coreógrafa.
Mas estas reminiscências funcionam a um nível simbólico, quantas vezes transposto para situações que se balançam entre a comédia e o romantismo.
“Nortada” congrega em si um lado doméstico, com os intérpretes a fingir comer à mesa ou a correr atrás de si bebendo vinho de boca em boca, e um lado exibicionista de passerelle.
De um modo geral todos vão desfilando, caminhando de um lado para o outro do palco, em linhas recta ou em cima de mesas alinhadas.
Naturalmente que os dois homens envergam fatos negros e as mulheres vestidos (também negros) de noite e sapatos de salto alto. Também a presença de microfones de pé em palco pressupõe a audição de textos, suspiros ou gente a arfar.
A música do cabo-verdiano Bau – que tão bem fez brilhar a companhia de Wuppertal em “Masurca Fogo” – aparece também numa cuidada selecção musical e faz os bailarinos dançarem em pares, com se estivessem num bailarico minhoto.
Cenas como um passeio com um bacalhau seco debaixo do braço ou um barco de papel numa tempestade num aquário são bem conseguidas, bem como a simulação de fogo de artifício que, inevitavelmente, nos lembra o fecho das festas da Sra. da Agonia.
Esta obra, que não acrescenta nada de muito relevante à dança-teatro de Olga Roriz, é, como sempre, muito bem interpretada e concebida com uma base de solidez, sem, no entanto fugir a estereótipos inerentes a um estilo que a coreógrafa representa, como nenhum outro criador, em Portugal.

Published by Antonio Laginha

Autoria e redação

António Laginha, editor e autor da maioria dos textos da RD, escreve como aprendeu antes do pretenso Acordo Ortográfico de 1990, o qual não foi ratificado por todos os países de língua portuguesa.

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