O Festival de Sintra foi buscar à segunda cidade da Eslovénia, Maribor, meia dúzia de bailarinos para uma peça (algo equívoca) que dá pelo nome de “Radio & Juliet”.
O director artístico e bailarino do Maribor Ballet, o romeno Eduard Cuig, partiu da música do grupo rock inglês “Radiohead” para abordar, de um modo modernizado, mas esquálido, a lendária história dos "amantes de Verona".
Logo no início, um filme algo misterioso mostra a imagem de solitária Julieta, de virginal corpete e pernas e braços nus, sobre a qual cinco homens de fato negro se vão sobrepondo. Nunca se percebe bem quem ganha terreno, em cena, numa sôfrega disputa de um protagonismo vagamente amoroso, em que os sentimentos se reduzem à sua expressão mais simples.
A peça, que se resume a cerca de uma hora de variações sobre um tema imaginário, é dançada com técnica, aprumo e muito rigor num espaço vazio, como se a sombra de Cunningham avalizasse o minimalismo da proposta.
A programação de Dança, do mais antigo festival de música (e dança) do país – já na sua 43ª edição – a cargo de Vasco Wellenkamp, director da Companhia Nacional de Bailado (CNB), tem se resumido a um universo demasiado restrito. Talvez por isso se tenha revelado, ano após ano, cada vez menos apelativa. Companhias de segunda ou terceira ordem não chamam público nacional e, muito menos, estrangeiro que no Verão abunda na simpática vila-museu.
Não é que a visão de Armando Jorge – outro director da CNB que durante anos dirigiu o festival – para este certame fosse a ideal. Antes pelo contrário, já que se centrava maioritariamente em grandes produções académico-clássicas.
Mas o que é certo é que longe vão os tempos em que o Festival de Sintra, quando não chovia, enchia os belíssimos relvados do Palácio de Seteais.