Charles Riley, conhecido artisticamente por Lil Buck, é um bailarino norte-americano muito em voga e que muita gente conheceu através de um curto vídeo exibido nas redes sociais. Sem grande aparato, trouxe ao Pequeno Auditório do Centro Cultural de Belém (CCB) um curioso programa de dança, acompanhado por um jovem violoncelista romeno, Mihai Marica, e um primo, Ron “Prime Tyme” Myles, com quem faz um estilo de dança de rua originário da sua cidade natal, Memphis, Tennessee. Aliás, o tipo de hip hop que pratica desde os 13 anos chama-se Memphis jookin’ e estendeu-se, posteriormente, até cidades como Los Angeles, Califórnia.
Foi, porém, em 2012 que Lil recebeu uma nomeação para um prémio da mais antiga revista de dança norte-americana, a Dancemagazine, na sequência de um projecto com o cineasta Spike Jonze e o famosíssimo violoncelista Yo-Yo Ma. Justamente uma interpretação (masculina) bastante inusitada do histórico solo de Fokine para a ballerina Anna Pavlova, “A Morte do Cisne” (1905).
Após um pequeno “aperitivo” – como chamou a um curto solo, que, de certo modo, deu o tem a todo o espectáculo – o artista, sorridente e muito expressivo pegou num microfone, apresentou-se ao público (corroborado pelo seu colega músico) e falou do que apresentariam seguidamente. Antes disso, explicou o título do seu espectáculo, “O que te move”, e deixou Mihai enumerar as obras musicais utilizadas ao longo de uma hora. De Bach (duas sarabandas) a Saint-Saëns (o Cisne, do Carnaval dos Animais), passando por Britten e por mais dois compositores contemporâneos, menos habituais em espectáculos de dança.
Lil é um bailarino exímio no seu estilo, descontraído na sua performance e resiliente no seu corpo robótico. Tanto ele, como Ron – que tem um rosto mais fechado mas é igualmente, elástico e focado nos seus solos – quase sempre começam os movimentos na ponta dos dedos ondulantes, à frente do tronco, e transmitem-nos ao resto do corpo. Algumas vezes com pequenas deslocações em cima dos bicos dos pés – ou melhor das botas de ténis que também servem para fazer piruetas – ou em círculos. Os braços dos bailarinos, por vezes, parecem algos aquáticos enquanto as suas mãos se transformam em pequenas borboletas imaginárias que parecem voar à sua volta.
A noite fechou com o supra citado “Cisne”, que Lil já dançou ao lado de Nina Ananiashivili, a bailarina georgiana que interpretou essa mesma peça no Teatro Nacional de São Carlos no passado dia 3 de Novembro. Muito aplaudido, o artista e o primo protagonizaram um espectáculo algo repetitivo uma vez que o tipo de material coreográfico com origem nas danças de rua não suporta longos períodos de acção sem se começar a parecer bastante semelhante. Ainda assim, Buck consegue transformar em dança teatral os seus solos de hip hop, dando-lhe uma estrutura coreográfica e um enquadramento que muito os valorizam, passando de uma dança essencialmente livre e mecanizada para um show com regras e uma certa teatralidade, ainda que muito centrada no carisma do próprio bailarino.