Nas classificações actuais de espectáculos que podem ter dança ou não, para além dos vocábulos “performance” e evento, também se poderiam usar não-dança e anti-dança. Curiosamente, os da madrilena Maria José Ribot – auto-intitulada La Ribot como se de uma diva estabelecida se tratasse – caem mais para a secção do “ad lib-pretencious-non sense”.
A paradoxal sensação de muitos espectadores é, seguramente, passar 64 dos 65 minutos, a duração de “Llámame Mariachi”, a imaginar a reacção dos seus “vizinhos” no epílogo da peça!
Logo o título, que parece desprendido do céu, é tão descabelado como a própria obra que tem duas partes: uma com mais de 20 minutos de um filme amador feito num teatro cheio de cenografia e adereços; e uma segunda, em frente a uma mesa, em que três mulheres (as mesmas que se auto-filmam enquanto correm como doidas) falam e atiram livros para o chão.
Curiosamente, o texto que surge no programa assinado por José A. Sánchez, é muito evocativo, rigoroso e com substância, e, seguramente bem mais interessante que o próprio espectáculo. Coisa rara nos tempos que correm!
O mais estranho é que quase ninguém saiu a meio entediado com o espectáculo. No fim ninguém gritou fraude ou coisa parecida. Também não se viram espectadores particularmente revoltados com o dinheiro pago pelo bilhete à Culturgest. Não é que aquela casa de espectáculos de vanguarda lisboeta não se tenha especializado em peças apupadas no Théâtre de la Ville…
A verdade é que, independentemente do que cada espectador sentiu durante mais de uma hora a ver uma mulher de meia-idade falar e ler francês com sotaque espanhol e duas outras mais jovens a atirar tartes para o chão ou a guinchar, a habitual “conversa com os artistas” depois do espectáculo, suscitou muito pouco interesse da parte dos espectadores que conseguiram resistir.