Integrada nas comemorações do Dia Mundial da Dança de 2018 realizou-se no edifício do Conservatório Nacional (CN), em Lisboa, no dia 29 de Abril, uma festa-homenagem ao Mestre Jorge Garcia. Conhecido como um pedagogo de referência no Ballet Gulbenkian e professor emérito da Escola Artística de Dança (EADCN), juntaram-se ao antigo bailarino (e também coreógrafo), muitos artistas que foram seus discípulos, alguns professores da citada instituição e amigos de muitos anos.
Após uma curta nota elogiosa, a cargo de Guilherme Dias, a pianista Mercedes Cabanach enalteceu os 18 anos de amizade e trabalho conjunto no CN e tocou algumas melodias suas favoritas. De seguida, os presentes assistiram a dois excertos de bailados de reportório por alunos do 7º ano da EADCN: um quarteto académico-clássico feminino e um trabalho de grupo extraído da “Sagração da Primavera” de Nijinski/Stravinski, segundo uma “reconstrução” de Millicent Hodson.
A cerimónia terminou com o descerrar de uma placa alusiva à data em que o Estúdio Sete – o mais emblemático de toda a escola -, passou a chamar-se oficialmente Estúdio Jorge Garcia. O mesmo está junto de outro que evoca a memória de Margarida de Abreu (1915-2006), considerada por muitos a “mãe” da Dança Portuguesa.
Nascido há 83 anos em Guáimaro, na provincia de Camagüey em Cuba, Jorge Garcia começou a estudar dança clássica com cerca de treze anos simultaneamente na Academia de Ballet Alícia Alonso, com José Parés, e, em privado, com a “ballerina” Menia Martinez. Estudou também arte dramática e técnicas de cena e, posteriormente, formou-se em música no Conservatório de Havana.
Em 1961 ingressou no corpo de baile do Ballet do Ballet Nacional de Cuba (BNC), fundado em 48 mas cuja escola oficial só foi estabelecida em 1950. Nela trabalhou com os mestres Victor Ivanovitch Zaplin, do Ballet Bolchoi, e Olga Krylova e Vladimir Gurov, do Teatro Kirov. Em 63 foi promovido a solista e, no ano seguinte, coreografou “Majíssimo” (com música de Massenet, da ópera “Le Cid”), o seu primeiro bailado para a companhia e o qual, desde logo, entrou no reportório do BNC. No ano seguinte criou “Amazónia” (Reingold Glière) e alguns bailados para óperas.
Em 1966 deixou o BNC em Paris, durante uma digressão a França, tendo, posteriormente, dançado como artista convidado nas óperas de Lyon e de Rouen. Na temporada de 67/68 foi contratado como bailarino principal da Ópera de Marselha, sob a direcção de Joseph Lazzinni, e na de 68/69 por Vittorio Biaggi para a Ópera de Lyon, onde criou um “pas-de-deux” com música de Minkus (“Paquita”). Seguidamente trabalhou na Ópera de Valónia (Bélgica) como bailarino principal, mestre-de-bailado e coreógrafo. Aí produziu os bailados “Noite de Walpurgis”, para a ópera “Fausto” (Gounod), “Sinfonia nº 39” (Mozart) e “Tanagras” (Bernier), e remontou “As Sílfides” e “A Bela Adormecida”.
Na temporada de 71/72 voltou à Ópera de Marselha, a convite de Rosella Hightower (para o Nouveau Ballet de Marseille) como mestre-de-bailado e coreógrafo, onde deu assistência a Rudolfo Nureyev, nos ensaios de “D.Quixote”, e criou alguns “divertissements” para óperas.
Em 1972, por indicação de Milko Sparembleck – para acabar com uma década de hegemonia de professores de origem inglesa – foi contratado como professor principal do Grupo Gulbenkian de Bailado, com o qual se deslocou em digressão ao Brasil. Para a companhia lisboeta coreografou, sucessivamente, “Três Movimentos” (Stravinsky), em 1973, “Duo” (Benedetto Marcello), em 1974, e “Variações Sinfónicas” (César Franck), em 1975. E remontou “Giselle”, em 1973, “Majíssimo”, em 1974 e o “Grand Pas de Quatre” (Cesare Pugni), em 1975.
Entre 1976 e 1979 foi director artístico do Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, tendo recriado nessa companhia obras como “O Lago dos Cisnes”, “Giselle”, “Paquita”, “Grand Pas de Quatre” e “Variações Sinfónicas”.
Leccionou também nos cursos do Banff Center (Canadá), no Festival Internazionale della Danza (Veneza, Itália) e no Festival Internazionale del Balleto (Nervi, Itália).
A partir de 79 foi professor convidado, sucessivamente, dos Ballets de Nancy, Marselha e Lyon (França), do Teatro alla Scala de Milão (Itália), do Ballet Real de Winnipeg (Canadá), do Boston Ballet (USA), do Atterballetto e do Balleto di Toscana (Itália) e dos Ballets de Monte-Carlo (Mónaco).
De regresso a Portugal (onde fixou residência em 1972) voltou ao Ballet Gulbenkian e foi, várias vezes, professor convidado da Companhia Nacional de Bailado (CNB), em que remontou “Giselle”, em 2002, para as comemorações dos 25 anos do grupo.
Em 1991 entrou como professor convidado na Escola Artística de Dança do Conservatório Nacional, para cujos alunos remontou uma versão de “La Fille Mal Gardée”, em 1994, que, posteriormente, entrou no reportório da CNB.
Já depois de reformado no CN, em 2009, continuou, esporadicamente, a trabalhar como professor convidado de várias companhias de nomeada, designadamente do Alvin Ailey American Dance Theatre, aquando da sua digressão europeia (Paris, em 2012).
Cristina Maciel, Jorge Garcia e Mercedes Cabanach.