Quando em 1985 surgiu na capital, pela mão de Rui Horta, a Companhia de Dança de Lisboa (CDL) – a “terceira companhia” criada sobre as cinzas do Grupo Experimental de Dança Jazz – registava-se no País a existência de três companhias de dança com actividade regular e contínua.
Nessa época parecia haver uma companhia para cada gosto. O Ballet Gulbenkian para as obras contemporâneas, a Companhia Nacional de Bailado para o reportório clássico e a CDL, mais maleável e imediatista, para um reportório de características mais populares e abrangente.
Ainda que o trio pretendesse dar cobertura a todo o território nacional (incluindo as ilhas) continuou a faltar no Porto – e zona Norte de Portugal – uma quarta companhia que, durante décadas foi o sonho do basco Pirmin Trecu, ex-bailarino solista do Ballet Real de Inglaterra que se estabeleceu na “Invicta” em 1961.
Essa grande lacuna ainda hoje é uma amarga realidade, pois nunca o mais abastado (mas conservador) Norte, se mobilizou para financiar uma estrutura de dança a sério – com a respectiva unidade pedagógica de apoio – que pudesse descer a Lisboa e percorrer o resto do País e, sobretudo, visitar com regularidade a Fundação de Serralves e a Casa da Música com o mesmo à vontade com que o fazem grupos estrangeiros, de maior ou menor qualidade e com mais ou menos identificação com o público que, hoje, enche meses a fio, as produções de Filipe la Féria no Teatro Rivoli.
Completamente ao contrário do que viria a acontecer em muitos outros países, em que não só as suas companhias foram crescendo e sedimentando o seu trabalho como, fruto dos tempo, se foram criando “centros coreográficos” regionais e democratizando a dança, frequentemente com o preciso apoio do estado que, vê nessa e noutras artes uma mais valia social e também económica, em Portugal – 28 anos depois – estamos numa situação de alarmante carência de estruturas pedagógicas e artísticas na área da dança com qualidade e de uma profunda e evidente crise criativa.
Não só as companhias têm vindo a claudicar, maioritariamente, devido à falta de apoios substanciais (perante a total estupefacção e impotência do público), como, hoje, raramente se vê nos nossos palcos um espectáculo de origem nacional com interesse artístico, alto grau de criatividade, bom desempenho técnico e alguma novidade.
Basicamente tudo se resume a uma Companhia Nacional de Bailado – em que o que falta em imaginação e dinâmica sobra em bailarinos que pouco ou nada fazem anos a fio – e aum ameia dúzia de agrupamentos que vão tentado sobreviver com maior ou menor integridade, chamando a si um público cada vez mais desmotivado para as propostas nacionais.
Longe de ser profeta da desgraça, a avaliar pelo primeiro trimestre de 2009 – o mês de Abril costuma ter um pouco mais de agitação devido ao pretexto das comemorações do Dia Mundial da Dança, no dia 29 – as estreias portuguesas são escassas (umas 8 e quase todas solos) e os grupos estrangeiros, com uma ou outra excepção, não parece que primem pela expectativa!
No primeiro dia de Fevereiro o bailarino português, Telmo Moreira, arrecadou, nada menos que, dois dos oito galardões do Prémio de Lausanne: uma das sete bolsas de estudo e o Prémio do Público.
Telmo começou ainda em criança no grupo de dança africana Batoto Yetu, daí passou para a Escola de Dança do Conservatório Nacional (Lisboa) e, actualmente, é bolseiro na Academia Vaganova (São Petersburgo).
O sonho deste e de outros jovens estudantes é um dia integrarem uma boa companhia de dança. Muitos deles pensarão no Ballet do Teatro Maryinky de São Petersburgo, no New York City Ballet ou no Ballet da Ópera de Paris.
E quantos deles, ao ver um espectáculo da Companhia Nacional de Bailado, alguma vez pensarão que os seus sonhos e futuro passam por Lisboa ?