CELEBRAR O DIA MUNDIAL DA DANÇA … DANÇANDO!

Nos finais de Abril, mais precisamente no dia 29 – em que se assinala em todo o Mundo o Dia Mundial da Dança – Portugal assistiu a dois eventos que espelham exemplarmente a pobreza artística e intelectual com que o Ministério da Cultura aborda a efeméride.
A Direcção da Companhia Nacional de Bailado (CNB) disponibilizou o Teatro Camões para uns primeiros (e pseudo “americanizados”) Portugal Dance Awards e a Direcção Geral das Artes (DGA) espalhou, por 199 publicitados locais, uma exposição em papelão com fotografias de dança emprestadas.
Quanto à nossa companhia nacional, que inventou para esse dia dois programas que não estavam na lista da temporada (em Lagos e na Guarda, onde se dançou uma “Coppélia” desfalcada e de baixa qualidade), deixou o Camões entregue a um evento feito "em cima do joelho" e que a RTP filmou para transmitir quase um mês depois.
Aqueles pretensos prémios “nacionais” da dança foram, desde logo, muito contestados. O protesto chegou mesmo à Internet onde foi posta a circular uma petição para que os directores da RTP e da CNB – instituições que usufruem de dinheiros públicos – se demarcassem de um evento de características comerciais e sem rigor nem credibilidade, primando pela falta de clareza e seriedade nas nomeações e, sobretudo, na escolha dos premiados.
Se a ideia poderia ser boa, os fins não justificaram meios tão pouco transparentes saídos de uma “academia” de dança lisboeta, em Xabregas, que começou por contar com e nomear alguns dos seus colaboradores. E os resultados não poderiam ser mais desequilibrados, com fortes laivos de amadorismo, que a filmagem televisiva – recorrendo a imagens de arquivo – tentou, com algum sucesso, suplantar.
Voltando à DGA que, pelo menos nesse dia, deveria era incentivar a dançar os artistas que financia, optou por eleger o movimento “congelado”, numa exposição em forma de “carta”, decorada por textos que se supõem ser da autoria de Madalena Vitorino… amigos e conhecidos.
Nem o copioso palavreado, de interesse muito discutível, balançando-se entre uma mais que de confrangedora trivialidade e uns laivos poéticos que sempre ficam bem debaixo de qualquer fotografia de autor reconhecido, publicado em cartas, cartinhas e desdobráveis, deu um pouco de dinâmica e luminosidade a uma exposição que não passou disso mesmo. Quanto à Dança… nem vê-la!
Como seria de esperar, as gastas evocações de Rudolf van Laban, deram lugar a um imenso rol de equívocos (como o “corpo pirilampo” ou as “danças densas”) ou a perfeitos disparates como “o crítico elege o mais mal vestido e o mais bem vestido e desenha um novo figurino para a pessoa mais mal vestida” (sic).
Quando o Sr. Director Geral das Artes escolhe e paga a uma amiga para organizar uma exposição e no catálogo lhe escreve uma carta financiada com verbas de todos os Portugueses, prenhe de louvores e deslumbramento – saia bem mais barato comprar um selo de correio – o que mais se pode esperar de uma instituição que deveria gastar o dinheiro dos nossos impostos com maior critério e, sobretudo, na certeza de obter resultados menos desinteressantes?

A verdade é que nunca houve tantas iniciativas e programas de “apoio às Artes” nem tanto palavreado estéril para tão poucos resultados práticos.
É fácil perceber-se que se continua a gastar “a torto e a direito” com iniciativas meramente pontuais (que não se compadecem com uma arte que necessita de planeamento rigoroso e, naturalmente, tempo e persistência) cujo lastro é praticamente igual a zero, e a recusar suporte financeiro àqueles que, no terreno, vão "puxando a carroça". Basta ver o trabalho das companhias e grupos financiados e o dos que nada recebem do MC.
A continuar este estado de coisas bem podemos esperar por melhores dias!
É que o Dia Mundial da Dança, sem sombra de dúvida, se deve celebrar … dançando!
E, cada vez mais, são aqueles que a DGA despreza (e humilha nos concursos) que enchem os teatros de côr, movimento e alegria num dia que se deve prolongar pelos outros 364 do ano…

Published by Antonio Laginha

Autoria e redação

António Laginha, editor e autor da maioria dos textos da RD, escreve como aprendeu antes do pretenso Acordo Ortográfico de 1990, o qual não foi ratificado por todos os países de língua portuguesa.

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