BISONTE BOMBA EM LISBOA

BISONTE BOMBA EM LISBOA

A última criação de Marco da Silva Ferreira, com o título Bisonte, estreou em Lisboa no Teatro Municipal de São Luiz, com uma sala quase cheia, atenta e particularmente jovem. Possivelmente esperando exactamente aquilo que o coreógrafo tinha para oferecer: meia dúzia de bailarinos (de breakdance) explodindo em energia, uma longa batucada produzida em palco por um DJ, uma cena despida de cenário com microfones, placas metálicas e armaduras suspensas e tudo tão casual e quotidiano que mais parece um encontro de amigos que se juntam para… afugentar fantasmas e convocar os espíritos da alegria!

Ainda que o programa do espectáculo teça algumas considerações do ponto de vista sociológico e literário e, mesmo, de teoria cultural, a verdade é que o trabalho não parece compelir os espectadores para além daquilo que é a sua própria natureza. Isto é, por mais elaborado que seja o conceito por trás da dança em questão, o resultado final é algo cru e baseado numa premissa cuja singularidade assenta directamente no poder da força e da energia versus a sofisticação do gesto ou a depuração do sentimento, no mais lato sentido da palavra.    

Bisonte poderá, simbolicamente, significar força bruta e masculina, mas as três bailarinas – que ao contrário dos rapazes, têm contacto físico umas com as outras na peça – são valentes na interpretação e fazem o mesmo que os seus colegas, em termos de movimento. Uma delas, Erica Santos, ainda executa (visivelmente divertida) um longo e exigente solo de bateria, que, todavia, não parece ter alguma relação com tudo o que de mais ou menos ocasional se passa em palco ao longo de mais de uma hora.
Os artistas começam por entrar no palco, um a um, em silêncio enquanto o público se ajeita nas poltronas. E é o coreógrafo que abre as “hostilidades” com uma canção a capela em frente de um microfone de pé no centro do proscénio, à boca de cena. Marco oferece (com o som distorcido) uma conhecida lambada e depois segue-se um som, cru e repetitivo, em ritmo de samba e todos entram na onda do break, solto e brincalhão. Com forte movimentação percussiva de ombros e pélvis e isolamentos de quase todas as partes o corpo.
As roupas, com um toque de ginásio, são coloridas mas do mais trivial possível, no seu desenho. Apenas uns riscos negros desenhados ao longo dos corpos quebram essa geografia física, bem como quando, a determinada altura, as mulheres tiram as partes superiores dos trajes e dançam de peito desnudado.

Digna de nota é a presença de André Cabral que, por vezes, sobressai do conjunto. Mais pelo seu extraordinário gingado africano do que, verdadeiramente, pelo power, que todos, indiscriminadamente, exibem. Leo e Anaísa Lopes completam o naipe feminino e Max Makowski substituiu, em Lisboa, Duarte Valadares que fez parte do elenco original da obra.

Fotos: José Caldeira

Published by Antonio Laginha

Autoria e redação

António Laginha, editor e autor da maioria dos textos da RD, escreve como aprendeu antes do pretenso Acordo Ortográfico de 1990, o qual não foi ratificado por todos os países de língua portuguesa.

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