OURO PARA PORTUGAL NA BULGÁRIA: O LEIRIENSE ANTÓNIO CASALINHO, DE 15 ANOS, FOI A ESTRELA DO CONCURSO DE BAILADO DE VARNA DE 2018
Foi com particular interesse, muita expectativa e enorme emoção que António Casalinho, o jovem bailarino de Leiria (nascido a 14 de Junho de 2003), participou no XXVIII Concurso Internacional de Ballet de Varna (CIBV), na Bulgária, que decorreu de 15 a 30 de Julho de 2018.
Não só porque se trata da competição de bailado internacional mais prestigiada no mundo da dança clássica – no passado com com forte presença de artistas russos e do chamado “Bloco de Leste” – e apenas na edição de 1983 (no XI Concurso) se registou uma muito discreta presença portuguesa, protagonizada por Vera Mantero, aluna de Anna Mascolo. E em 2008, Telmo Moreira – actualmente a dançar nos EUA – chegou a finalista na XXIII edição.
O jovem artista em competição com o solo de Acteon, do pas-de-deux “Diana e Acteon”.
O CIBV foi criado em 1964 e a sua primeira edição realizou-se de 2 a 13 de Julho no Teatro ao Ar Livre da maior estância balnear da Bulgária, situada na zona este do país no Mar Negro. Emil Dimitrov foi o fundador e diretor daquele que, apesar de se realizar ano sim ano não, pode ser considerado o primeiro certame profissional internacional de nível mundial devido à excelência dos jurados – normalmente recrutados entre as estrelas de inquestionável fama do bailado clássico – e a um programa de competição altamente profissional e de grande rigor artístico (a nível de coreografias clássicas e também contemporâneas).
António Casalinho no desfile inicial do certame com a bandeira portuguesa.
Uma organização rigorosa divide os participantes em duas categorias – júniores e seniores – e todos são julgados de acordo com o seu escalão etário e experiência artística.
O bailarino pousando junto do cartaz de Varna 2018.
Ao longo de várias décadas foram laureados artistas de craveira mundial tais como Vladimir Vassiliev, Natalia Makarova, Eva Evdokimova, Mikhail Barishnikov, Natalia Bessmertnova, Patrick Dupond, Sylvie Guillem, Agnes Letestu, Yoko Morishita, Martine Van Hamel, Evelin Hart, Loipa Araújo, Vladimir Malakhov, Yoko Morishita, Fernando Bujones, Maximilliano Guerrra, Kimin Kim e Marin Boierou, entre outros.
Final solo do bailado “Paquita” (Petipa-Minkus).
Este ano, em que concorreram 34 países, o presidente do júri foi a estrela russa Vladimir Vasiliev e os membros mais destacados do painel de jurados, foram o francês Eric Vu-An e a cubana Loipa Araújo.
CASALINHO ARRECADOU NADA MENOS QUE QUATRO IMPORTANTES PRÉMIOS
António Casalinho apresentou-se com o seu inconfundível “aplomb”, “finesse”, concentração, rigor e virtuosismo técnico, em nada menos que seis dos mais difíceis solos do reportório académico-clássico masculino: Siegfried, de “O Lago dos Cisnes”, Acteon, da peça “Diana e Acteon”, Albrecht, do II acto de “Giselle”, o famoso solo de “O Corsário”, Basílio do I acto de “D. Quixote” e uma variação do bailado “Paquita”. Para além trabalhos contemporâneos da autoria de dois coreógrafo mexicanos radicados em Portugal, Ricardo Flores e Enrique Perez-Cantero.
Todas as prestações do grande artista, de qualidade imaculada, foram longamente aplaudidas pelo público nas três eliminatórias, já se sabendo – antes da gala final – que teria um lugar garantido no pódium.
Na verdade, o concurso de Varna é extremamente exigente, sobretudo para um adolescente de 15 anos a que, certamente, não se pode exigir maturidade interpretativa e diversidade estilística em solos de alguns minutos. Contudo, António, é de tal modo persistente e focado no seu trabalho que se excede a si próprio, com uma simplicidade e espontaneidade que são apanágio dos grandes artistas.
As notáveis prestações de António, no palco de Varna no certame de 2018, ficarão certamente para a história da Dança Portuguesa do século vinte e um, premiando o seu trabalho e o de muitos professores que têm contribuído com o seu saber e generosidade para a sua formação. Designadamente Annarella Roura Sanchez, sua primeira e mais dedicada mestra.
Além do Special Distinction Award, (diploma e medalha), António conquistou também o Emil Dimitrov Prize for Young Talents, o Promising Young Dancer – juntamente com Siyi Li (China) – e o Bounty Awards for the youngest competitors.
Segundo a imprensa francesa, “qualquer bailarino premiado em Varna já leva da Bulgária uma certa garantia profissional. E, mesmo aqueles que não são premiados, ao voltarem aos seus países, já são consideravelmente mais populares”. O que não é, verdadeiramente, o caso do leiriense Casalinho que ficou na memória de muitos portugueses por ter ganho o penúltimo concurso televisivo “Portugal Got Talent”.
Resta agora esperar (calmamente) por um futuro risonho – e sem percalços do destino – pois talento e inteligência não faltam ao grande laureado de Varna 2018.
Parabéns, António !
Solo contemporâneo (Fortuna, dos Cantos Buranos) interpretado por António e coreografado por Perez-Cantero.
Ulisses, solo da categoria contemporâneo, interpretado por António, da autoria de Ricardo Flores.
Diploma do concurso – Distinção especial.
António Casalinho com as mestras cubanas – da esquerda para a direita – Annarella Sanchéz, Caridad Martinez, Ramona de Saá e Niurka de Saá.
O jovem laureado ao lado de Annarella Sanchéz, a sua primeira professora e directora do conservatório onde estuda em Leiria.
Foto no concurso Got Talent Portugal.
LISTA DE ARTISTAS PRÉMIADOS EM VARNA EM 2008
Júniores – FEMININO:
Bianca Scudamore – França
Elena Iseki – Alemanha
Siyi Li – China
Júniores – MASCULINO:
António Casalinho – Portugal
Itsuki Omori – Portugal (aluno da Escola de Dança do Conservatório Nacional – Lisboa)
Haruto Goto – Alemanha
Seniores – FEMININO:
Katherine Berkman – EUA
Miyu Takamori – Húngria
Sofia Tsutsakova – Bulgária
Yuan Zhe Zi xuan – Canadá
Seniores – MASCULINO:
Andras Pecialmente – Hungria
João Abenanty – Bulgária
Sinuo Chang – China
Francisco Muralhas – France
Asa de Chun Lam – França
Texto: António Laginha
Fotos: oficiais do Concurso Internacional de Varna, Enrique Perez-Cantero e Annarella Sanchez