ADEUS A PAULA GAREYA (1932-2016)

ADEUS A PAULA GAREYA (1932-2016)

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A bailarina, professora e ensaiadora inglesa Paula Gareya, que fez parte do elenco de  várias companhias portuguesas – designadamente o Grupo de Bailados Portugueses Verde Gaio e a Companhia Nacional de Bailado – faleceu na zona de Setúbal onde morava, vítima de cancro no dia 21 de Janeiro, uma semana após ter completado 84 anos.

Pauline Gayter Costa Pereira, nasceu em Eltrincham, Cheshire (Inglaterra) em 13 de Janeiro de 1932. Começou por estudar com sua mãe, Florrie Gayter, professora de dança para crianças. Depois foi aluna de Muriel Tweedy, em Manchester, antes de ingressar na Arts Educational, em Londres, onde durante dois anos teve por mestres Grace Cone e Joyce Mackie. Em 1949 foi contratada para o corpo de baile da Companhia Markova/Dolin, que um ano depois se transformou no London’s Festival Ballet. Com essa companhia dançou “O Lago dos Cisnes”, “Petrouschka”, “Les Sylphides”, “La Esmeralda” e as danças da ópera “O Príncipe Igor”, entre outros bailados, tendo participado em digressões pela Europa e América, Israel e outros países, até que em 1956, fez uma paragem devido a um acidente. Durante um longo período de recuperação estudou com os famosos mestres Ana Northcote e Siegurd Lieder.

No ano seguinte, fez audição em Londres, para uma revista em Lisboa coreografada por Fernando Lima e começou a trabalhar no Teatro Monumental em Agosto de 1957, juntamente com outros 13 bailarinos ingleses.

Além de peças de teatro de revista, participou também em programas da RTP e em espectáculos no Casino Estoril. Em 58 fez parte do grupo Ballets de Lisboa, de Águeda Sena e Fernando Lima. No ano seguinte, integrada no Grupo de Bailados Portugueses de Fernando Lima – na companhia do próprio Fernando Lima, Fernando Isasca, Carlos Mendonça e Fernando Rodrigues e das bailarinas inglesas, Roberta Burdeyron e Jean Johnston e de Bernardette Pessanha), exibiu-se durante uma temporada no Casino Estoril e, de seguida, partiu em digressão por vários países da Europa: França, Suíça, Bélgica, Alemanha, Holanda, Dinamarca e Suécia e, ainda, no Egipto (1960) dançando, basicamente, folclore português estilizado.

Em Dezembro de 1960, foi contratada como solista pelo grupo de Bailados Portugueses Verde Gaio dirigidos por Margarida de Abreu e Fernando Lima. De 1961 a 1975 foi bailarina principal dessa companhia em que interpretou quase todo o seu repertório, com destaque para papéis como a Severa (“Fado”) e a bailarina de “D. Quixote”. Dançou ainda “O Condestável” de Fernando Lima, “Divertimento” e “Pastoral”, ambos com coreografia de Margarida de Abreu, e várias óperas, designadamente “La Gioconda”, no Teatro Nacional de São Carlos..

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Paula Gareya começou a ensinar regularmente em 1968 no Verde Gaio e em 1977 transitou para a recém-formada Companhia Nacional de Bailado, como mestra de bailado e ensaiadora. Até à sua saída, no final da temporada de 82/83, dançou papéis de carácter em “La Sylphide” (Anna), em “Romeu e Julieta” (Ama) e no “Baile dos Cadetes” (Perceptora).

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Deu aulas em várias escolas particulares até que em Maio de 1984 se juntou ao corpo docente da Academia de Dança Contemporânea de Setúbal, para ensinar dança clássica, dança de carácter, reportório e maquilhagem. Paula Gareya fez também direcção dos ensaios, designadamente da obra “Jogos Sinfónicos”, com musica de Prokofiev, com a coreografia de Fernando Lima. Em 1995 deixou de trabalhar regularmente na Cêdêcê, porém, em 2008, ainda coreografou o bailado “Sagrado e Profano”, com figurinos de António Carmo, apresentado em estreia absoluta no Dia Mundial da Dança, no Teatro de Alcobaça.

O seu nome aparece mencionado no livro “Ballet Scandals”, de Julian Braunsweg, publicado em Inglaterra em 1973.

“Foi uma mulher notável, com um papel muito importante, quer como bailarina, quer como professora, e que demonstrou, até ao fim, uma coragem notável para enfrentar a doença”, disse Graça Bessa à agência Lusa, sobre uma pessoa que foi, para muitos, uma mestra atenta e carinhosa e, para outros, uma colega conhecedora da sua profissão, solidária e muitíssimo bem formada que deixou saudades por onde passou.

Published by Antonio Laginha

Autoria e redação

António Laginha, editor e autor da maioria dos textos da RD, escreve como aprendeu antes do pretenso Acordo Ortográfico de 1990, o qual não foi ratificado por todos os países de língua portuguesa.

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