“DRÁCULA” BRILHA EM SINTRA E VAI AO BRASIL

“DRÁCULA” BRILHA EM SINTRA E VAI AO BRASIL

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A companhia de Fátima visita no meio do mês de Março seis cidades brasileiras ( Novo Hamburgo, Porto Alegre, São Paulo, Recife e Natal) na sua primeira digressão à América do Sul, com o apoio do Ministério da Cultura Brasileiro.

À agência Lusa, Cláudia Martins que, juntamente com Rafael Carriço, coreografou “Drácula”, afirmou que “a estreia no Brasil é mais uma oportunidade para mostrar o trabalho que a companhia desenvolve na área da dança contemporânea. As expectativas são elevadas, pois levar uma temática que associamos à Europa, concretamente à Transilvânia e a Londres, locais frios, a um público de um país tropical com uma cultura diferente da nossa, é estimulante”.

A bailarina adiantou que esta produção surgiu após terem sido convidados a coreografar, por duas vezes, em Bucareste, capital da Roménia, período durante o qual se confrontaram com aquela personagem. “Na primeira vez coreografámos um solo inspirado nas pinturas `Le Roi Fou` [O Rei Louco], de autoria do pintor romeno Corneliu Baba. No espectáculo as pessoas ficaram muito impressionadas porque o associaram ao ditador Ceascescu”. Em Bucareste a dupla de  coreógrafos depararou-se “com mais outra personagem maligna, o príncipe Vlad”, tendo decidido fazer uma peça de dança com ele. Como a reação do público foi boa, tomámos isso como um estímulo”.

“Drácula” é uma coprodução com o Macedonian Opera & Ballet, e estreou-se em Skopje, na Macedónia, a 29 de Abril de 2011, tendo, posteriromente sido mostrado em vários países. “A última apresentação foi no festival de música George Enescu, na Ópera Nacional de Bucareste, onde o espetáculo, que esgotou com meses de antecedência, foi filmado em direto”, adiantou a bailarina.

Para a peça “Drácula”, além de se inspirarem na obra literária de Bram Stoker, os coreógrafos criaram novas personagens e inspiraram-se noutras lendas e mitos. “No desenrolar da peça, `Drácula` assume diferentes formas, caras, animais e corpos. A essência deste ser malévolo e de muitas outras personagens é transposta para a contemporaneidade, explorando as várias formas do lado sombrio que existe em nós mesmos. É assim que na peça surgem personagens inéditas como um cozinheiro alucinado, que faz um prato de ‘arroz de cabidela’ com frango, arroz e sangue. Apesar de haver momentos de grande tensão, a peça tem também registos de humor”, acrescentou Cláudia Martins, destacando a sonoplastia, “muito forte e intensa”, com músicas de Lou Reed e temas do “emblemático filme de Coppola”.

Depois do Brasil, a Vortice Dance Company leva “Drácula” à Suíça.

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DRÁCULA BRILHA EM SINTRA

A apresentação da Vortice Dance com a peça “Drácula”, no Auditório Olga de Cadaval neste chuvoso mês de Maio, revestiu-se de um interesse especial. Desde logo porque a obra tem feito carreira, sobretudo, no estrangeiro e também porque foi apresentada na capital há quase dois anos e pouca gente, então, teve oportunidade de vê-la no Casino de Lisboa, no Parque Expo.

A estrutura do bailado, tal como em quase todos da dupla Rafael Carriço-Cláudia Martins (autores da coreografia e protagonistas de “Drácula”) assenta bastante em solos e duetos para ambos e em alguns conjuntos menos expressivos para os restantes artistas.

A imagem inicial do espectáculo – criado em co-produção com a Ópera e Ballet da Macedónia – é bela, forte e impressionante, com uma árvore branca flutuante e um homem desnudado atingido por um fio de sangue despejado… dos céus. Aliás, poder-se-ia mesmo afirmar que os dois coreógrafos são excelentes criadores de sofisticadas imagens e que a peça, mais do que “colada” ao romance Bram Stroker, se desenvolve numa sucessão de quadros de forte impacto visual.

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Para além disso, a variada escolha musical – que vai de Sergei Rachmaninov a Philip Glass – e hábeis efeitos sonoros criam um clima muito particular que, por vezes, transporta os espectadores para um mundo algo “vampiresco” e, acima de tudo, de contornos oníricos. Os figurinos utilizados e assinados pela coreógrafa são espectaculares na sua textura, cor, movimento e monumentalidade e ela manipula-os com destreza tornando-os vivos e actuantes. Numa das cenas há mesmo um bailarino invisível, dentro de uma longa rabona vermelha coberta de rosas, que transporta Cláudia no ar criando um sentido ilusório do movimento. Nos momentos finais da peça surge uma versão branca do mesmo tipo de traje todo envolto em fumos e também manipulado com grande destreza. Apesar do movimento que alimenta os conjuntos não ser particularmente variado, ele é muito enérgico e desenvolto. E a dramaturgia ágil embora nem sempre perceptível.

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“Drácula” vai do cómico – com uma cena em que um casal prepara um cozinhado como se fosse uma televisiva lição de culinária – ao atlético, mostrando quatro homens pendurados de cabeça para baixo em trapézios lembrando alguns dos truques usados há muitos anos pelos bailarinos de butô, passando pelo enigmático. As várias personagens, que vão desfilando ao longo de hora e meia sem interrupção, são variadas, enigmáticas e, por vezes, voluptuosas mesmo quando tudo não passa de uma espécie de desejo de abordar o “submundo dos vampiros” com “o seu desejo por sangue” e “actos de egoísmo e lutas sem dó nem piedade”

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No final do espectáculo, por entre fortes aplausos da plateia, Rafael Carriço fez questão de se chegar à frente e agradecer o calor do público. Bem como falar sobre a actuação da Direcção Geral das Artes e Secretaria de Estado da Cultura, ambas inquinadas por fortes interesses de um conhecido grupo de subsidio-dependentes que há muito que se sobrepõem aos artísticos. É do conhecimento público como é (mal) distribuído o dinheiro dos nossos impostos para a  dança pela Companhia Nacional de Bailado e por gente que nada de relevante produz.

Por este espectáculo é bem evidente que um grupo como o Vortice escapa a uma mediocridade institucionalizada que faz a vergonha da nossa dança aquém e (sobretudo) além-fronteiras.

 

Published by Antonio Laginha

Autoria e redação

António Laginha, editor e autor da maioria dos textos da RD, escreve como aprendeu antes do pretenso Acordo Ortográfico de 1990, o qual não foi ratificado por todos os países de língua portuguesa.

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